quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Ato Médico

Há um tempo atrás muito se falou sobre o ato médico, com campanhas recolhendo assinaturas pró e contra tal lei.
O que seria? É uma lei que delimita a atuação do médico. Na teoria é muito boa, mas podemos ver que os profissionais de outras áreas só reclamam. Apenas os próprios médicos aparecem como defensores absolutos. Provavelmente há alguma coisa nesse vespeiro.

Há muitas desconfianças de que certos pontos mais controversos têm caráter puramente mercantilista. Alguns fisioterapeutas conhecidos meus dizem, por exemplo, que o ponto que trata sobre a exclusividade da perfuração da pele por médicos (com exceção às injeções) teria a finalidade de tentar restringir aos médicos a aplicação de acupuntura.

Ainda fisioterapeutas e psicólogos podem vir a reclamar da exclusividade do médico na prescrição não só de remédios, mas de tratamento. Como poderia o médico prescrever todos os detalhes de um tratamento fisioterapêutico? Prescrever que técnicas usar, etc se isso é conhecimento de domínio dos fisioterapeutas? O mesmo valeria para psicólogos.

Não quero aqui adentrar demais nas minhas opiniões pessoais sobre a categoria médica, mas essa lei coloca os médicos como os principais responsáveis pela saúde do paciente, tirando responsabilidade de demais profissionais de oturas áreas que estão aí justamente para dividir com o médico a responsabilidade e trabalhar colaborativamente.

Agora, é estranho notarmos como um certo folhetim diário que vai ao ar às 09:00 da noite, oportunamente tem em sua trama um núcleo de médicos, que vive seus dramas existenciais. Notemos também como é enfatizado o sacrifício, o sacerdócio, a dedicação do médico (praticamente um Gandhi), que além de tudo é mal pago, pois todos os médicos do plantão da novela moram numa pensão, como se a maioria dos médicos que conhecemos vivesse na pendura sem condições de sequer alugar um local próprio.

Abram os olhos, nada é por acaso. Quem quiser que compre essa ladainha.
Alguns links para quem quiser dar uma aprofundada no assunto






quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Indústria Fonográfica


Lendo algum material sobre o assunto, me veio uma reflexão, meio triste talvez. Na entrevista com produtor musical Juliano Polimeno, que faz gestão de bandas, fica bem evidente que cada vez menos a música tem a ver com arte, mas sim com comércio. O sucesso de um músico/banda/grupo depende infinitamente mais do trabalho de gerenciamento da carreira do que do trabalho musical em si. É óbvio que é necessário o trabalho de divulgação, mas noto que cada vez mais o trabalho artístico tem menos peso do que o trabalho mercadológico.
O que mais se vê são as celebridades posando por aí. As cantoras bahianas que notamos facilmente, passam mais tempo nas academias torneando as pernas do que ensaiando suas canções. Para mim, isso deve denotar, no mínimo, que cada vez mais a arte tem tornado-se medíocre, pois garanto que qualquer que seja o estilo musical ou a forma de arte, um bom trabalho requer horas de prática e dedicação, o que não temos visto muito por aí.

O cenário atual sofreu mudanças drásticas, com a perda de poder das gravadoras, e uma suposta democratização do espaço para divulgar música, o que de fato aconteceu, mas isso não significa que melhoraram muito as chances de quem quer emancipar sua arte, pois agora, ao invés de ficar preso a gravadoras, os músicos ficam dependentes de empresas de gerenciamento de carreira, e presos às vontades da indústria de tecnologia, que é quem financia essa distribuição gratuita de música.
Apesar dessas mudanças, e da suposta liberdade que o músico tem, o que vemos na verdade é uma mudança no eixo do poder. Antes a indústria fonográfica se utilizava de produtos da indústria da tecnologia como suporte para vender a música que quisesse, hoje a indústria da tecnologia emancipou-se e sob a bandeira da música gratuita, distribuída na internet, sob uma máscara de liberdade e democracia, usa sim, a música para obter dinheiro com a venda de tecnologia e de publicidade. A empresa oferece música grátis, e vende espaço de publicidade, além de vender outros produtos seus, como por exemplo, tocadores de áudio digital, muitas vezes específicos para baixar a música no seu próprio site.
Nessa história o que acontece é que o aspirante a artista acaba tendo a ilusão de que tem mais oportunidades, pois em outros tempos, para gravar um material musical era necessário submeter-se ao crivo de uma gravadora, que por sua vez, apenas abria espaço para aquilo que se julgava comercial, ou seja que se julgava ter aceitação na rádio, que por sua vez era paga por anunciantes.Hoje qualquer um coloca sua música na rede, os sites de conteúdo gerado pelo usuário não se negam a receber os arquivos, pois o custo de manter os arquivos é mínimo para eles. Isso gera a falsa impressão de liberdade.
Até é possível notar que houve um abertura de espaço para outros nomes com esse novo modelo de negócio musical, mas apesar de termos novos nomes, cada vez temos mais do mesmo, todo dia, aos bocados. Pois o que acontece é que o mercado, que antes era ditado pelos anunciantes nas rádios, agora é dirigido pelos anunciantes desses sites que distribuem música na Internet. Então fatalmente, apesar de não negarem-se a receber qualquer upload de conteúdo, os sites que distribuem o conteúdo vão dar destaque aos que são vinculados ao consumo de determinado produto de anunciante a, b ou c.
Mas então, do que estaria eu reclamando, se na verdade, o que ocorre é apenas um reflexo da aceitação de um determinado tipo de música ? Nada mais democrático, pois resumindo, teria mais destaque a música que mais pessoas gostassem.
No entanto, se lembrarmos a indústria do rádio, no séc. XX, o que ela fazia? Inicialmente esa indústria era de certa forma mais ingênua. À medida que gêneros musicais iam caindo no gosto do povo, ele ia ganhando espaço nas rádios. Com o passar dos tempos vemos que cada vez mais essa indústria se conscientizou de seu poder e nas últimas décadas vemos como ela manipulou de forma cada vez mais consciente o gosto do público, deixando um cenário em que apesar de hoje haver uma hipotética liberdade de expressão musical, de fato essa liberdade não acontece, pois o músico de hoje acaba ficando extremamente preso aos cânones estabelecidos (ou melhor destruídos) pela indústria cultural de massas.
O músico tem a liberdade de postar o que bem entender na internet, mas sabemos que a aceitação da obra está extremamente vinculada a quanto ela se encaixa dentro dessas fôrmas que a indústria criou a o longo do tempo.
Talvez achem que penso ser o povo apenas uma massa de manobra sem vontade própria. Individualmente não acho, mas coletivamente acho que somos. É fácil vermos como a indústria musical mudou a música e sem que percebamos, ditou normas e gostos. Como exemplo basta pegar a duração das músicas, que desde a criação do disco começou a ser restringida, primeiramente devido a limitações das mídias de gravação, os cilindros de cera e os primeiros discos que só conseguiam gravar poucos minutos de música. Só esse exemplo mostra como a indústria influenciou na criação musical. Até hoje, por motivos outros, a música comercial fica confinada dentro de um universo de três minutos.
Esse efeito me lembra seleção natural, onde sobrevivem os mais adaptados, mas o que me assusta é o fato de cada vez mais um pequeno número de empresas ser responsável por grande parte da delimitação do gosto da nossa sociedade, alienando-nos das possibilidades de conhecer e escolhermos outras infinitas possibilidades.
A tal liberdade terá de ser construída com muito custo, na medida em que os músicos quebrem com esses paradigmas. A dúvida que resta é se há possibilidade de fazer isso de dentro dessa nova indústria, que acabou criando um novo modelo de negócio. Esse talvez seja um dos principais papéis do músico atual.